Resenha #96: Sonhe Mais - Reconstruindo a vida após a perda

Sonhe Mais
Autora: Jai Pausch
Editora: Novo Conceito

Sinopse:
Jai Pausch passou por um trauma: a perda do marido para um câncer de pâncreas. A enfermidade de Randy Pausch também destruiu as verdades e as certezas em que Jay acreditava. Pega de surpresa pela doença, que avançou rapidamente, Jay Pausch precisou inverter suas prioridades. Acostumada a cuidar da família, percebeu que aquele era, também, o momento de cuidar de si mesma, porque, do contrário — caso fraquejasse —, sua família não sobreviveria. E, apesar de todas as alterações pelas quais passou, foi capaz de registrar a maior parte de suas experiências, dúvidas e medos.
Este registro acabou se constituindo num relato vigoroso sobre como a morte muda o relacionamento entre as pessoas e sobre como é possível sobreviver, passo a passo, a essas mudanças.
Sonhe Mais é referência para todos os que estão vivendo uma fase de transição e é leitura obrigatória para aqueles que passaram, ou estão passando, por um momento de dor.
"Depois de um casamento fracassado, era preciso muita coragem para confiar em alguém de novo. Mas Randy fez parecer fácil acreditar nele e em nós. Eu tinha certeza de que nosso casamento não acabaria em divórcio; sabia que seria 'até que a morte nos separe'. Eu só não sabia que seria tão cedo, logo após fazermos nossos votos." 
(página 15)

     Após um casamento falho abalar suas crenças no casamento e nos votos de fidelidade eterna, Jai conhece Randy. PhD em Ciências da computação, ele tem uma personalidade amável, mas analisa os fatos de forma objetiva. Eles se apaixonam profundamente, e Randy reacende as chamas da esperança em Jai. Eles se casam em 2000, e iniciam uma bela e amada família. Mas infelizmente, esse livro não se trata do bonito conto de amor de Jai e Randy. Em 2006 Randy é diagnosticado com câncer de pâncreas, e em 2008, após dois anos de luta contra a doença, ele chega a falecer, deixando a vida de Jai devastada. 
     Sonhe Mais é o relato da cuidadora Jai Pausch, como ela se auto-afirma. Cuidador é aquele que fica ao lado da pessoa doente, dando suporte físico e emocional, doando seu tempo e energia para alguém que ama. É um papel admirável. Mas o que poucos sabem, segundo Jai, é que os cuidadores sofrem tanto ou mais que o doente. Parece insensível afirmar isso, mas a autora prova como é real. Abandonar sua vida para se entregar exclusivamente a um processo gradual e cheio de ápices de incertezas e medos, ser aquele a ter que lidar e ensinar a lidar (no caso de filhos, seres que apesar da pouca compreensão de mundo sentem a ausência do mesmo jeito) com a perda... Não existem médicos ou especialistas para quem passa pela experiência de ser cuidador. Mas Jai introduz ao contexto do tratamento esse papel, e a importância que deve ser dada a quem o toma para si.

"Os pacientes precisam e merecem apoio, mas chegou a hora de nós, como comunidade, entendermos o sofrimento carregado nos ombros, por vezes, em silêncio, pelos membros de nossa família, vizinhos, amigos e colegas de trabalho. Precisamos oferecer ajuda a essas pessoas, desenvolver e implementar programas em centros de oncologia e outras organizações. Precisamos nos solidarizar com a pessoa que assume a responsabilidade de cuidar e tomar conta do paciente. Finalmente, precisamos cuidar do cuidador."
(página 7) 
     Para enfatizar seu argumento, a autora conta sua própria experiência. Em dois anos de idas e vindas, tempos de saúde e de doença, Jai se encontra na posição de dividir o tempo que tem entre cuidar do  marido e cuidar dos filhos. Para isso ela abandona o "cuidar de si mesma", e leva a questão em muitas noites mal dormidas e dias mal vividos. O mal que antes parecia tão distante a ameaça um pouco mais cada dia que passa em sua vida. Quando tudo chega ao fim, a perda é outro desafio a com o qual lidar. Mas ter passado por tudo isso afeta Jai, e ela decide ajudar aqueles que passam pela mesma situação que a sua.

"Depois de ver as atrocidades que o câncer pode fazer no corpo e na alma, sentia grande empatia por todos aqueles que estavam em meu lugar. Não podia apagar as imagens fechando meus olhos;  elas simplesmente reapareciam em minha mente."
(página 235)
    Um livro que vai além do emocionante. Que toca o leitor de todas as maneiras possíveis. Que torna real uma situação cruel, mas muito comum, que poucas pessoas entendem realmente. Randy era um homem memorável, com sua intensa análise e programação das coisas, e com todo o carinho que pôde ceder à família mesmo nos tempos difíceis. Jai é uma lutadora, que apesar de todas as dificuldades não se deixou cair. Sonhe Mais é uma verdadeira lição de vida.

Um comentário

  1. Eu amei esse livro pela história da vida da personagem. As pessoas se preocupam apenas com quem está doente sem perceber que os cuidadores também precisam de ajuda.

    É uma linda e triste história de uma esposa que amava seu marido.
    ;)
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir