Livros vs Filme: A hospedeira

 

    A hospedeira, best-seller da queridinha de uns e nem tanto de outro Stephenie Meyer, veio as telonas na semana passada, sexta-feira (29). De princípio, houve muito blá blá blá referente à credibilidade do livro, devido à autoria. Mas que todos fiquem alerta: são dois enredos COMPLETAMENTE diferentes. Sim, há o triângulo amoroso, e até um amor proibido de de certo modo. Mas na minha opinião, Meyer propôs dessa vez uma receita bem diferente. E dessa vez, ela acertou o ponto.

     A estória é centrada em um contexto de invasão alienígena na Terra. Mas nada de homenzinhos verdes ou destruição do planeta que geralmente são mostrados em filmes com essa temática. As almas, seres que habitam os diferentes planetas e sociedades existentes, infiltram-se no corpo dos habitantes do local, e determinam um modelo de sociedade mais pacífico e harmônico. Mas com os seres humanos foi um pouco diferente, já que a natureza violenta e instintiva do ser humano entra em conflito com a confiabilidade das almas. 

     Aí entra Melanie, uma das únicas humanas que sobreviveram à invasão. Para proteger o irmão, ela acaba por ser capturada e inserem uma alma em seu corpo. Mas ela é resistente e, diferente dos outros, não "some" quando passa pelo processo de inserção. Peregrina, a alma que agora habita o corpo de Melanie, tem que conviver com a "colega de quarto". Ela tenta suprimir a presença de Mel, mas ao perceber que não se encaixa na sociedade das almas, ela encontra nos humanos seu verdadeiro lar.

    As principais diferenças de adaptação estão na caracterização dos personagens. Jeb, Ian e Kyle foram os que ficaram mais parecidos. Ainda assim, no livro os dois irmãos são descritos como homens grandes e musculosos, e no filme isso não acontece. Jared também foi uma decepção nesse quesito. Na verdade, a maior delas. Na obra de Meyer, ele tem quarenta anos. O que, no contexto, fica estranho, pois Mel tem menos de vinte. Mas isso é o que caracteriza a relação dos dois: um casal improvável, com aquele quê de o-fim-do-mundo-tem-dessas-coisas. Na produção, ele é jovem, o que deu um tom de romancezinho adolescente a toda estória. Mais um detalhe: Mel é originalmente loira e de bom porte físico, o que em geral ficava em oposição visível à natureza delicada e indefesa de Peg. Ficou claro que fizeram isso por causa do público para o qual direcionaram o filme, constituído em maior parte pelos fãs da saga Crepúsculo e afins. Esse foi um erro, pois como citado anteriormente, são dois enredos diferentes. 

     Fora isso, houveram cortes e adições de cenas. Mas isso é necessário em toda e qualquer adaptação de livros do porte de A hospedeira, já que se fizessem fielmente, sairia um filme de três horas e a probabilidade de entediar o espectador no meio do filme é muito grande. Mas a jogada de adaptação foi muito boa. Foram pegos os acontecimentos-chave de toda a estória, tiraram ganchos menos importantes, e costuraram o que restou. Resultado final: um filme bom, mas mediano em comparação ao livro. O que sempre acontece com livros bastante detalhados, então os fãs não podem dizer que estão decepcionados. Pelo menos, não muito.